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Verão na Itália!

16 de agosto de 2022
Passar o dia no escuro e não sair de casa à tarde.

Esse hábito é certamente o que mais me chocou! Quando está calor, você abre as janelas de casa para refrescar a casa, certo? Bom, os italianos fazem exatamente o contrário. É comum entrar nas casas das pessoas durante o dia e ter que acender a luz.
Exatamente, porque as janelas estarão fechadas. Essa “medida” aparentemente sem sentido e um tanto extrema é aconselhada até mesmo pelo Ministério da Saúde italiano, que recomenda bloquear a entrada de luz em casa, deixando porém passagem livre para o ar.

Tudo isso é possível graças à tapparella (janelas com persiana de enrolar) ou aos scuri/antone (parte da janela com veneziana que cobre os vidros por dentro), presentes em muitas casas e apartamentos na Itália.

Aproveitar as praias italianas como os italianos.

Pelo menos para mim, a imagem de praia que tenho é a seguinte: mar com bastante ondas – e às vezes de tombo – pôr-do-sol às 18h, às vezes vento e correnteza… Na Itália é um pouquinho diferente.
Nadar no… mar!
Nós brasileiros estamos acostumados a nadar no oceano. Eu só reparei nisso quando, durante o meu primeiro intercâmbio acadêmico na Itália, eu me deparei com outro tipo de “mar”.
Foi somente aí que pensei:
“Uau, essa é a primeira vez que mergulho em um mar! Eu cresci nadando no oceano.”
O Mar Mediterrâneo (e os mares que circundam a península itálica) é, em regra, mais calmo, com praias curtas, maré baixa. Em alguns lugares do país, principalmente no sul da Itália e na Sardenha, é tão rasa que você precisa caminhar bastante até conseguir molhar o corpo todo.

Se você estiver pensando em surfar, esqueça! Os italianos surfistas procuram as praias portuguesas para praticar este esporte. O motivo: a costa de Portugal é banhada pelo… Oceano Atlântico!

Praias rochosas.

Se você pensar na imagem clássica das praias italianas, o que vem em mente? A Costa Amalfitana, certo?
Isso não decorre somente de um estereótipo. Existem, sim, praias “de areia”. Todavia, passar o verão na Itália significa, tendencialmente, ter de nadar em praias rochosas (onde são presentes falésias e das quais as pessoas pulam diretamente no mar) ou em praias com pedrinhas.

E já que muitas praias italianas são formadas por pedrinhas – cujo motivo seria a formação morfológica das praias, e teria a ver com altitude, latitude, etc. – tomar sol vira uma aventura! Pelo menos nas primeiras vezes, é difícil encontrar uma posição minimamente confortável. Tudo machuca. O mesmo vale para nadar. Elas machucam, eu garanto!

E que mico durante o verão na Itália!

Nós, brasileiros na Itália, passamos por cada uma. Caminhar sobre as pedrinhas não é uma tarefa simples! Confesso que demorei um pouco para aprender a sair da água com classe… Justamente por isso virei uma adepta das sapatilhas!

Ir em praias ‘equipadas’.

O verão na Itália (ou estate italiana, como os próprios italianos gostam de chamá-la) tem um elemento importantíssimo: i lidi ou bagni (gli stabilimenti balneari).
São praias “equipadas”, um misto do nosso bom e velho quiosque de praia (drinks, bebidas, comidas, etc.) com serviços de resort (cadeira de praia, espreguiçadeiras, guarda-sol, mesinha, banheiro).

Os stabilimenti balneari são livres mas não gratuitos. Ou seja, você pode usufruir daquele pedaço de praia, mas precisa pagar pelo guarda-sol e pelas cadeiras.
 Algumas pessoas, principalmente os moradores de cidades litorâneas, preferem fazer um plano trimestral e garantir o lugar na praia durante toda a temporada. É uma prática muito comum na Itália, que teve o seu primeiro lido no final do século XIX em Viareggio (Toscana).
Existe uma grande discussão entre quem prefere as assim chamadas spiagge attrezzate (praias equipadas) e as spiagge libere (livres, sem serviços). Caso você não seja muito do time lido, não tem problema. As praias na Itália são públicas, e existe sempre um espaço para quem não quer usar o lido.

Outra interessante peculiaridade do lido são as cabines de troca de roupa! Esse costume da Itália me faz lembrar dos filmes italianos dos anos 1950-1960.

Se deliciar com comidinhas leves.

Verão na Itália é sinônimo de leveza (bom, quase sempre: é durante essa época do ano que as pessoas fazem a parmigiana di melanzane, ou seja, uma lasanha de berinjela frita feita com muçarela de búfala e molho de tomate).
Como o país ainda respeita a sazonalidade dos ingredientes, é nos meses entre junho e agosto que podemos comprar alimentos como berinjela, abobrinha, melão, figo, pêssego, nectarina, melancia…
Tomate e as suas 1001 variações são um dos símbolos da Itália. E comer tomate vira uma coisa típica do verão na Itália.
Pratos como a pappa al pomodoro, friselle con pomodoro, insalata caprese, macarrão com tomatinho-cereja, tomate recheado são muito comuns durante essa época do ano.

As conservas de molho de tomate, tomate pelado, passata são preparadas rigorosamente no verão. Desta forma, você terá molho o ano inteiro.
Insalata di farro, insalata di riso, pasta fredda, cuscuz…

Os italianos são grandes amantes de cereais e leguminosas. Trigo e farro, arroz, grão-de-bico, feijão, lentilha fazem parte da cultura italiana (e dos povos itálicos) desde “sempre” (por isso a tradição de comer pão e macarrão). No outono e no inverno, são protagonistas de pratos quentes; já no verão, das saladas!

De fato, é muito comum encontrar saladas de farro (trigo espelta) e de arroz nos restaurantes ou lanchonetes – na beira da praia também! Leve, saborosa e muito refrescante, são ótimas opções para um almoço ou janta leve mas saudável.
E você achava mesmo que os italianos iriam ficar sem comer macarrão no verão? Claro que não!
Além dos clássicos pesto alla genovese (molho de manjericão típico de Gênova), pasta alle vongole (macarrão com mexilhão), macarrão com tomatinho-cereja e peixe, a salada de macarrão é um grande clássico da culinária de verão italiana. Pode ser feita com atum, milho, tomatinho-cereja, camarão, salmão, alcaparras, azeitonas, queijo fresco… É democrática e super gostosa!

Mesinhas na calçada e pôr do sol às 21h.

Eu adoro quando os primeiros cafés e bares começam a colocar as mesinhas na calçada. Para mim, é o símbolo do início da temporada!
Você deve estar pensando: “Ué, mas isso também tem no Brasil”. É verdade. Mas lembre-se que o calor e o verão na Itália duram, por alto, três meses por ano. Os outros nove nós passamos dentro dos restaurantes!

Ver o céu escurecer às 21h da noite é uma emoção única, principalmente para quem passou o inverno praticamente no escuro (já que o pôr do sol é entre às 16h40 e 17h da metade de novembro até o comecinho de fevereiro, em que os dias são breves e duram cerca de 9h!).
O solstício de verão (que no hemisfério norte é em 21 de junho, mesmo dia em que ocorre o solstício de inverno no Brasil) marca essa longa duração dos dias dos meses veranis, podendo durar até 16h! O dia parece não ter fim, tudo parece mais leve, divertido.

Comida e música ao ar livre.

Finalmente podemos viver o mundo lá fora! Nos meses de junho, julho e agosto, os protagonistas são os festivais ao ar livre. Grandes ou pequenos que sejam, a ideia é curtir o verão em um parque, em uma praça…

Le sagre.

Assim como todo país europeu, a Itália também oferece uma vasta gama de festivais de comida e bebidas. De norte a sul, é possível participar de várias: sagra della patata, del gambero (camarão), delle ciliegie (cerejas), dei funghi (cogumelos), della cipolla rossa (cebola vermelha)…

Enfim, são inúmeras opções, e é um ótimo jeito de conhecer a tradição gastronômica local, gastando pouco e vivenciando uma experiência autêntica, já que é frequentada e promovida pela própria comunidade.
A origem da sagra é sobretudo religiosa. Tais festas também estariam ligadas à colheita das frutas e verduras, e também ao período de caça, cuja origem é muito remota, pagã e pré-cristã.
Essa tradição italiana chegou também ao Brasil graças aos imigrantes europeus (portugueses, italianos, espanhóis). Temos a nossa amada Festa Junina ou a Festa da Tainha, do Pinhão, entre outras, além das festas italianas de São Paulo: Achiropita, São Vito e São Gennaro.

Além disso, no final da primavera, é possível conhecer vinícolas, jantar entre os vinhedos, fazer degustações de vinhos italianos. No outono, é possível experimentar o olio nuovo (azeite de oliva novo, ou seja, recém-colhido e não maturado) e, claro, participar da vindima! Enfim, festas durante o ano inteiro!

Verão na Itália é sinônimo de festivais de música.

A Itália inteira vira um palco ao ar livre. São tantos festivais interessantes que é até difícil escolher onde e o que assistir! Em Perugia, cidade onde atualmente moro, julho é sinônimo de jazz. Roma e Florença viram cidades de rock. Enfim, não faltam opções!

Se você está pensando em vir para a Itália em agosto, esqueça! As cidades ficam vazias, o comércio fecha, as pessoas entram de férias… Isso sem falar no queridinho do verão: o Ferragosto (melhor ainda se pudermos emendar).
Celebrado em 15 de agosto, é o feriado italiano por excelência, sem dúvidas o dia que melhor representa o verão na Itália. Praia, lago, montanha, rio. Não importa o destino, a ideia é deixar a cidade para trás e se refugiar do calor em companhia de amigos e família.
A tradição de comemorar o Ferragosto é muito antiga. Introduzido no século XVIII a.C., o termo deriva do latim Feriae Augusti, ou seja, o Feriado do Imperador Augusto, que marcava uma pausa dos trabalhos agrícolas.
Cinco dias antes do Ferragosto é a vez de São Lourenço. A madrugada (notte) do dia 10 de agosto é caracterizada pelas Perséiades, chuva de meteoros visível a olho nu. Na Itália, são conhecidas também como Lágrimas de São Lourenço (Lacrime di San Lorenzo), devida à sua origem cristã.

Assistir ao espetáculo na beira do mar é lindo, além de ajudar a matar a saudade do Ano Novo brasileiro!